Não esperem coerência e coesão em meus textos. As ideias aqui expressadas por mim, se dispõem de modo prolixo, com sentido e articulação que só eu percebo ninguém mais. contudo, não descarto a possibilidade de que, eventualmente, alguns de vocês possam concordar ou discordar delas. Afirmo, portanto, que este blog é uma tentativa minha de organizar e saber a quantas andam meu confuso pesamento, muitas vezes irônico e tantas outras cáustico.

sábado, 14 de abril de 2012

NUNCA APRENDI A EXISTIR

Estranho esse dia. Dia "pessoano". Ainda estou infusa nesse poeta. Ele disse que "Um dia, lá para o fim do futuro, alguém escreverá sobre mim um poema, e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino". Infelizmente não sou poeta para escrever uma poesia em homenagem a esse brilhante observador de si mesmo e das coisas. Sou apenas uma criatura apagada neste exato momento. Agora lhe digo Fernando: você de fato "encarna a substância de milhares de vozes", e entre elas, lá estou.

Selecionei o fragmento 215 do Livro do Desassossego para externar minha concordância contigo e um pouco a estranheza que esse mundo me causa, mas que você foi bem mais capaz de o dizer do que EU.

"Tenho as opiniões mais desencontradas, as crenças mais diversas. É que nunca penso, nem falo, nem ajo... Pensa, fala, age por mim sempre um sonho qualquer meu, em que me encarno de momento. Vou a falar e falo eu-outro. De meu, só sinto uma incapacidade enorme, um vácuo imenso, uma incompetência ante tudo quanto é a vida. Não sei os gestos a acto nenhum real,
Nunca aprendi a existir.
Tudo que quero consigo, logo que seja dentro de mim." (p.222-223).

Eis que é assim que estou me sentido, uma estaferma diante da vida. Lembro de um excerto da correspondência de Florbela Espanca para Guido Battelli, fiquei impressionada. Pois ela em poucas palavras, revela não apenas alguns traços de sua personalidade, mas também traços que conheço tão bem em mim, excetuando o trecho em que ela fala sobre as pessoas que lhe fizeram mal, para mim, mesmo aquelas que tentaram me derrubar, acabaram me fortalecendo.

"O meu talento!... De que me tem servido? [ela está bem melhor do que eu, pois eu nem bem ao certo sei qual é o meu talento] Não trouxe nunca às minhas mãos vazias a mais pequena esmola do destino. Até hoje não há ninguém que de mim se tenha aproximado que me não tenha feito mal. Talvez culpa minha, talvez... O meu mundo não é como o dos outros; quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudades sei lá de quê!"

Amanhã serei outra que eu mesma, mas por hora, serei uma provisória heterônima de Pessoa, pois assim como Bernardo, eu nunca aprendi a existir. Acho que nunca aprenderei. Serei uma eterna ignorante na arte de viver. Sou infinitamente angustiada e tenho saudades de quem ainda não sou.

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